segunda-feira, 26 de março de 2007

Pra que lado foi a vida?

Tenho um pouco de fragilidade com sombrancelhas baixas
Que me atacam mais em dias que expectativas são frustradas
O problema é que minhas expectativas não podem derivar dos outros
Tem que vir de mim... Eu tenho que ter expectativa em mim
Essa conclusão me animou um pouco...
Porque percebi que aquela casca que eu tinha tanto medo que surgisse
Cresceu em volta do meu peito, já podemos observar ela cobrindo a minha inocência
Agora basta apenas eu aceitá-la.
Tudo isso me lembrou o meu primeiro trauma de infância,
Vou contar-lhes:

Eu não cursei o Jardim de infância, o que me frustra um pouco quando lembro as pinturas azul céu e vermelho escarlate, sem sentidos, que poderia ter feito e fui privada (saudades do que não foi), sendo assim arrebatada para uma sala do dito C.A, em que a (famosa) professora Beth puxava as orelhas dos alunos para os ensinar a ler e escrever. Pois bem, quando entrei na turma já sabia ler, escrever, sinônimo, antônimo, e muitas coisas que as outras crianças da turma ainda buscavam aprender. Porque desde há muito minha mãe me ensinava. O deslize de minha mãe foi utilizar folhas de papel ofício nesta aprendizagem, o que fez com que eu não tivesse conhecimento de como era escrever na linha reta (nunca tive muita tendência a retidão assim)... Quer dizer, meu caderno era uma bagunça, com frases que iam de um lado ao outro da folha, com linhas imaginárias só vistas por mim... A malvada Beth, não levou em consideração todo esforço que eu não queria ter feito para aprender tudo que já sabia, e ao ver o que ela pensava ser apenas bagunça em um caderno, rasgou-o em todas as suas folhas, jogando-o no lixo. Nunca vou me esquecer daquela cena, de minha cabeça baixa e o retornar para a cadeira muito assustada, e principalmente do horroroso caderno de caligrafia que fui obrigada a utilizar depois disso, com a minha mãe e não a malvada Beth, a controlar cada letra fora da linha, o que fez com que minha letra se tornasse redondinha, e desenhada em cada detalhe, como se ainda escrevesse no caderno de caligrafia.

Hoje me vejo meio perdida, como se tivesse perdido as linhas retas do caderno, tão determinadas durante meus dias... É como se eu tivesse voltado a escrever nas minhas linhas imaginárias, e meu coração se cobre de medo de que a qualquer momento ele possa ser rasgado!

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço, um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás
(Poema - Cazuza)

14 comentários:

Athena disse...

excelente texto, digno e necessario para qq sala de professores! Só não gostei do final ... Talvez a melhor qualidade de alguém seja escrever em linhas imaginárias ...

Athena disse...

Aliás, do final eu adorei rsrs, não gostei do terceiro parágrafo, achei piegas ... Ja´se pressupõe ao longo do texto, está implícito

peka disse...

O problema é que eu gosto muito de ser completamente entendida... quando quero que me entendam!!! Não faço reservas quanto a isso, e nem de mostrar toda a minha pieguice quando tenho vontade de choro...

Anônimo disse...

o texto ta foda..muito foda
to sem palavras

Anônimo disse...

É.... existem problemas ao longo dessa história. Quem disse que precisamos de linhas tão retas? Mas já que nos cobram tanto essas linhas, cadê o caderno com as linhas? OU seja... no final nos tiram a imaginação, e também ficamos sem linhas.
Para qual lado ir?? entramos nesse labirinto do contraditório continuamente... talvez porque nos querem deixar sem ter para onde ir.

Anônimo disse...

Ótimo texto!
Malvada Tia Beth, ditadora de regras, destruidora da imaginação!
Malvado mundo q nos cobra tanto linhas retas como linhas imaginárias.

caeiro disse...

uma pena que o exercício da escrita seja encarado por algumas pessoas (e pior, professores) como uma atividade de castração. ainda bem que esse trauma não foi suficiente para lhe roubar essa capacidade de escrever coisas tão fodas. e: abaixo ao caderno de caligrafia também.

Athena disse...

Olha que louco ! A parte em vermelho, do Cazuza, apareceu hoje de manhã como uns borrões muito loucos, mas meio em forma de poema ... Achei que tinha sido de propósito !!! Agora, dei de cara com o Zuza no final rsrsrs .
Se um escritor de Literatura se faz entender o tempo todo, então como é que o leitor vai se expressar? O leitor se expressa nos vazios do texto, já disse, não o prive disso.
Bjs

Anônimo disse...

Quem escreve com o coração não precisa de regras, precisa de liberdade. Independete de parte externa ou não, o importante é ser você mesmo!

Anônimo disse...

Bom, mudando um pouquinho o foco geral dos comentários, preciso dizer que algo especial que me chamou atenção (talvez seja porque conheci a autora talentosíssima deste texto na Universidade): Agora todos podem entender porque a Peka se formou tão jovem!!! Sem fazer Pré e Primeira série (sem falar do Jardim de infância!!!) fica fácil chegar tão cedo na UFF, o que já nos aponta outra questão, a inteligência desta menina, pois além de pular as séries, não ficou reprovada nem no vestibular pra UFF, né!!! Isso, por sinal também justifica a capacidade de escrever um texto tão legal! Só chego a uma conclusão: ela deveria ter feito Literatura!!! rss... Mas ainda é tempo!

Anônimo disse...

E eu que ia sugerir justamente um caderno de caligrafia pra você porque não entendo sua letra direito.

peka disse...

Ainda bem que sei que muitas das coisas que vem de vc, é puro sarcasmo, mas que no fundo, bem lá no fundo, vc tem um bom coração... hahahaha... Saudades!

Leonardo disse...

gostei principalmente do início... me lembrou das diversas cascas que nossos corações formam após cada investida errada no campo do amar... o problema é que depois de tantas porradas o coração pode ficar duro, e abrí-lo torna-se uma tarefa hercúlea... será que vale a pena?

Anônimo disse...

Acredito que as linhas são necessárias, infelizmente. O problema é como convencer isso a alguém...impor as regras assim na linha dura é sempre foda. Mas ao mesmo tempo, se não nos acostumássemos com as regras desde jovens, teríamos uma vida adulta muito mais dura do que já temos hoje.

É foda, eu não estou dizendo que concordo plenamente com isso, mas existem regras básicas de convivência.

Mas o texto é sim muito bonito.