quarta-feira, 14 de março de 2007

matéria de poesia

todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para poesia

o homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

terreno de 10 x 20, sujo de mato - os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

as coisas que não levam a nada
têm grande importância

cada coisa ordinária é um elemento de estima

cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral

tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia

tudo aquilo que nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia

o que é bom para o lixo é bom para a poesia

as coisas jogadas fora
têm grande importância
- como um homem jogado fora

aliás é também objeto de poesia
saber qual o período médio
que um homem jogado fora
pode permanecer na terra sem nascerem
em sua boca as raizes da escória

as coisas sem importância são bens de poesia



essa é do manuel de barros, poeta brasileiro, talvez o maoir ainda vivo.
para que as pessoas possam funcionar "sem apertar o botão"

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