sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Meio perdida, mas não mais a flor da pele...

Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angustia de fome de carne
O que não sei que seja - Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver na rua.
Não há travessa achada o numero da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Ate meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Ate os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Ate a vida só desejada me farta - ate essa vida...

Compreendo intervalos desconexos,
Escrevo por lapsos de cansaco,
E um tédio que e ate do tédio arroja-me a praia.

Não sei que destino ou futuro compete a minha angustia sem leme,
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me naufrago,
Ou que patamares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
(...)
Alvaro de Campos/ F. Pessoa

Um comentário:

caeiro disse...

Pessoa encarnado em Campos, putz, muito bom pekita. Vou ver se ponho o mestre alberto caeiro. merece.