merecimento ( o futebol pode ser bastante injusto)
jim morrison escreveu que todos os jogos contêm em si a idéia de morte. num dos mais simbólicos diálogos de "os imperdoáveis", o xerife-bandido gene hackman disse, uma espingarda apontada pros seus cornos: "eu não mereço isso." ao que o pistoleiro-mocinho clint eastwood retrucou, entre dentes: "isso nada tem a ver com merecimento." pou! se todos morremos, a morte não tem nada a ver com merecimento.
portanto, se concordamos com morrison, temos que admitir, a partir de eastwood, que nem todos os jogos contêm em si a idéia de justiça. basquete e vôlei, sim, contêm. neles, não falta emoção. ela, contudo, nasce da ansiedade em se definir logo qual melhor time em quadra. graças a suas próprias regras, que minimizam o peso dos erros dos atletas e da arbitragem, é certo que, ao ponto final, o melhor será reconhecido ganhador.
a vida não é assim, não é justa assim. talvez o futebol tenha se tornado o esporte popular que é porque não apenas admite como, a cada 90 ou 120 minutos, a cada cobrança de pênaltis, a cada cara ou coroa, flerta abertamente com a idéia de injustiça. corrijo então uma frase escrita há tempos, não me lembro qual exato contexto: não, o futebol não é maior que a vida; o futebol é do tamanho dela, é um decalque estilizado da própria vida.
da coluna semanal de arthur dapieve dessa sexta em "o globo".
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