segunda-feira, 1 de outubro de 2007

thiaguisse

Estava com os cigarros perto do fim. Estava perto do fim também, sabia. Perfilava na ante-sala, monótono, disperso. Mal reconhecia a origem do incômodo, de dentro, talvez, pensou. Desfilava desculpas e mentiras recém saídas do forno. Era preciso mentir e isso doía demais. Contratou os serviços daquele velho barraqueiro, quatros doses diárias daquela batida escrota de cacau. As duas pratas mais mal gastas de sua vida. Dores no estômago à noite. O velho, pensava pra si mesmo, devia ter uma espécie de pacto com o diabo. Adorava cortar cabelo, o próprio inclusive. Mas adorava mais ainda tê-lo, o cabelo, comprido. Entregara a alma ao coisa ruim em troca disso: poder cortar o próprio cabelo todo dia e ter todo dia o cabelo grande.

Um belo dia, ao descobrir minha simpatia para com as idéias comunistas, ameaçou não mais me servir as doses. “Tá brincando, seu velho punheteiro? Eu não posso ser comunista mas tu pode usar esse rabo de cavalo?”. Ele esquivou-se para trás, meio amedrontado e disse a todos os fregueses presentes em sua espelunca: “girem suas bebidas como se fossem brasas. Almas para o demônio. Ta pensando que eu morri?”.

Um comentário:

Vinicius Buscacio disse...

“Tá brincando, seu velho punheteiro? Eu não posso ser comunista mas tu pode usar esse rabo de cavalo?"

uauaua...genial

parece saído do "cheiro do ralo"